segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ate quando se deve tratar um paciente submetido à uma artroplastia de quadril?

A articulação do quadril, ou articulação coxofemoral é classificada como uma articulação sinovial do tipo bola e soquete. Este termo serve para descrever o tipo de encaixe articular. Ou seja: a cabeça femoral tem um formato esférico e o soquete refere-se ao acetábulo, o qual tem um formato côncavo no qual a cabeça do fêmur se articula.

A osteoartrose é uma doença degenerativa envolvendo a cartilagem articular do quadril e em casos avançados afetando também os ossos. Os sintomas causados pela osteoartrose de quadril incluem limitação do movimento e dores no quadril, dores na coluna (causadas por alterações na marcha devido à dor) e em alguns casos dores irradiadas para os joelhos.

Tratamento
Muitos casos de osteoartrose de quadril são tratados de forma conservadora com exercícios de fortalecimento, uso de bengalas ou muletas, redução de peso, cuidados posturais e medicamentos podem ser úteis para reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida. Em uma meta-análise recente, publicada em setembro na revista Arthritis Care & Research.( Therapeutic Exercise May Be Effective for Hip Osteoarthritis Arthritis Care Res. 2008;59:1221-1228.) Os pesquisadores concluíram que exercícios terapêuticos, especialmente aqueles com componente de fortalecimento são uma forma de tratamento eficaz para pacientes com osteoartrose do quadril.

Entretanto, em muitos casos, o processo degenerativo já comprometeu de tal forma a articulação que a cirurgia de artroplastia de quadril se faz necessária. A artroplastia é um procedimento cirúrgico que visa a substituição das estruturas ósseas danificadas do quadril por uma prótese irá substituir funcionalmente a articulação. Na artroplastia total de quadril (ATQ), a substituição articular é completa; ou seja: Existe uma prótese que substitui o componente acetabular e outra que substitui o componente femoral. Na artroplastia parcial de quadril (APQ) apenas um dos componentes articulares é substituído (geralmente é o femoral). Existem diversos trabalhos e sites que comentam os exercícios a serem realizados no Pós-operatório imediato das ATQs. Deixo aqui alguns links para quem estiver interessado.
link 1; link 2; link 3
Apesar de estar falando sobre a cirurgia de ATQ, este não é o objetivo do post de hoje.
Na verdade, eu pretendo chamar a atenção para alguns cuidados que devemos ter com nossos pacientes que passaram por uma ATQ, principalmente os pacientes idosos.

Pacientes que precisam realizar uma artroplastia de quadril normalmente fazem fisioterapia ou tratamento com exercícios domiciliares por 6-8 meses após a cirurgia. Alguns trabalhos científicos demonstram que estes pacientes apresentam limitações cardiovasculares e musculoesqueléticas resultantes do descondicionamento físico que ocorreu no período prévio à cirurgia (por ser uma cirurgia eletiva, às vezes os pacientes aguardam na fila de espera por anos). Pesquisadores identificaram limitações em relação ao condicionamento aeróbico 6 meses após a cirurgiqa de ATQ. Idosos submetidos à ATQ também apresentam perda de força muscular, apresentando-se significativamente mais fracos do que pessoas da mesma idade. Além disso, aterações da marcha e equilíbrio também estavam presentes 1 ano após a cirurgia . Baseado nestes achados, recomenda-se que repensemos o período de acompanhamento de pacientes submetidos à ATQ, para que continuem com a prática de exercícios terapêuticos por um período superior aos 6-8 meses sugeridos.
Não custa nada lembrar que o objetivo final de qualquer programa de reabilitação é reduzir os efeitos das incapacidades físicas, psicológicas e intelectuais, tornando o indivíduo o mais funcional possível.

Referências
(1) Horstmann, T., et al. (2002). [Deficits in performance in hip osteoarthritis and endoprosthesis patients.] Deutsche Zeitschrift Fur Sportmedizin, 53(1), 17–21.)
(2) Sicard-Rosenbaum, L., Light, K. E., & Behrman, A. L. (2002). Gait, lower extremity strength, and self-assessed mobility after hip arthroplasty. Journal of Gerontology Series A: Biological Sciences & Medical Sciences, 57(1), M47–M51
(3) Trudelle-Jackson, E., Emerson, R., & Smith, S. (2002). Outcomes of total hip arthroplasty: a study of patients one year postsurgery. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 32(6), 260–267.)
(4) Long, W. T., et al. (1993). Functional recovery of noncemented total hip arthroplasty. Clinical
Orthopaedics and Related Research, (288), 73–77.
(5) Shih, C. H., et al. (1994). Muscular recovery around the hip joint after total hip arthroplasty. Clinical Orthopaedics and Related Research, (302), 115–120.