segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A manipulação torácica para o tratamento da cervicalgia


Hoje vou falar um pouco sobre manipulação da coluna dorsal, mas antes devo avisar aos navegantes que eu não tenho absolutamente nada contra a Osteopatia. Faço questão de deixar isso bem claro pois não quero que minha opinião sobre o assunto seja mal interpretada. Neste post vou defender a manipulação torácica ao invés da manipulação cervical como forma de tratamento da cervicalgia pelos fisioterapeutas. Eu não sou osteopata e justamente por isso não realizo o thrust em região cervical. Sei que muitos não-osteopatas (e mesmo leigos) costumam manipular a cervical de pacientes. Muita gente acha legal ficar "estalando" o pescoço dos outros e acha que está fazendo osteopatia. Não poderiam estar mais enganados!. O Thrust é apenas uma das técnicas utilizadas pelos osteopatas, e segundo um colega meu, é uma técnica que nem sempre é utilizada nos atendimentos de osteopatia. Fica aqui o aviso: Manipular a cervical sem o devido domínio da técnica pode ter complicações graves ! ! !

Pois bem, agora que estamos conversados podemos ir direto ao assunto:

A cervicalgia é uma ocorrência comum na prática clínica dos fisioterapeutas e apesar da manipulação cervical ser considerada uma intervenção apropriado para o atendimento, devo reforçar a minha opinião de que os fisioterapeutas devem pesar bem se os benefícios compensam os riscos potenciais desta técnica.

Porém, para aqueles que não abrem mão do thrust, alguns estudos sugerem que a técnica de thrust aplicada na coluna torácica pode ser uma alternativa útil no manejo de pacientes com dor cervical. Biomecanicamente falando, distúrbios da mobilidade torácica podem ser um fator contribuinte para o desenvolvimento de distúrbios cervicais devido a uma associação existente entre a diminuição da mobilidade da coluna torácica e a presença de disfunção cervical. Vários estudos sugerem que técnicas de thrust direcionadas à coluna torácica podem diminuir a dor e melhorar a função destes pacientes.
É importante ressaltar que o thrust na coluna torácica tem um risco muito menor de complicações graves. Assim, a manipulação torácica pode ser uma alternativa adequada ao thrust cervical.

Em um estudo publicado em 2007 na Physical Therapy, e disponível para download, foram identificadas 6 variáveis capazes de identificar pacientes com cervicalgia que teoricamente se beneficiariam da técnica de thrust em coluna torácica. Embora não tenha sido conduzido um estudo clínico para comprovar a validade destes achados vale a pena a gente ficar sabendo quais são estas características:

[1] Sintomas presentes a menos de 30 dias
[2] Ausência de sintomas distais ao ombro
[3] Olhar para cima (extensão cervical e capital) não agrava os sintomas
[4] Pontuação na subscala de atividade física do questionário FABQ (Fear-Avoidance Beliefs Questionnaire) menor que 12.
[5] Cifose da torácica alta reduzida ( redução da convexidade da coluna torácica alta, sendo neste estudo considerada torácica alta os segmentos entre T3–T5)
[6] ADM de extensão cervical menor que 30 graus

Em outro trabalho, também publicado em 2007 na Physical Therapy, foram investigados os efeitos a curto prazo da técnica de thrust em coluna torácica Vs Mobilização tipo PA central graus III ou IV (conceito Maitland), sendo que os pacientes que receberam o Thrust obtiveram uma redução mais acentuada na dor cervical. Este trabalho tem uma série de limitações, mas gera algumas evidências interessantes, principalmente em relação aos efeitos adversos os quais foram bastante modestos.

Um último trabalho que eu quero citar foi publicado em 1999 e que também está disponível para download fala sobre os riscos e benefícios da manipulação cervical. É sem dúvida o texto mais complexo dos três, com uma bagagem teórica bastante pesada. Mas considero leitura obrigatória para aqueles que pretendem se aprofundar nas técnicas de manipulação.

Para aqueles que leram esta postagem até o final eu deixo um pequeno presente: Links para o download de três vídeos de manipulação da coluna dorsal com explicação em inglês.
Da minha parte, já tive a oportunidade de observar melhora na dor cervical de pacientes logo após manipulação torácica. No entanto, eu só opto por realizar o thrust em pacientes com rigidez importante da torácica e que relatam muita dor durante a mobilização tipo PA central.
Para finalizar quero salientar mais uma vez que este é o ponto de vista de um fisioterapeuta não osteopata que se borra de medo de manipular a cervical de alguém e que fica de cabelo em pé quando ouve alguém dizer que aprendeu a "estalar o pescoço" ou que faz "cleck-cleck" no pescoço dos pacientes.
Pois bem, o post de hoje foi este, espero que tenham gostado.